Estória sobre Alzheimer e Parkinson


A desconfiança virou certeza. E a família da turismóloga Amanda Leitão, de 25 anos, viu a necessidade de ir se transformando para se adequar à nova realidade: o chefe da casa, o capitão José Walmir Moreira, de 65 anos, hoje na reserva da Polícia Militar, não conseguia mais liderar os comandos. O primeiro sintoma foi a intensificação de um mal. “Papai é viciado em jogo. E a gente passou a ter certeza (do Alzheimer) quando ele deixou de pagar as contas para gastar mais de mil reais na loteria”. A doença piorou a compulsão.
A jovem abre a intimidade e as minúcias da rotina para ajudar outras famílias. A doença, que nas primeiras descobertas científicas era classificada de “mal”, converte toda a casa e faz uma ebulição. A princípio, tem todos os predicados de um mal. Vai apagando, aos poucos, a memória das coisas recentes e mais simples. Para, no fim, deixar apenas o corpo de lembrança aos parentes e amigos.
A família de Virgínia Monte enfrentou mudanças semelhantes. Maria de Lurdes, de 86 anos, tia do seu marido, João Monte, apresentou os primeiros sinais de doença de Parkinson há quase 20 anos e a dona de casa assumiu os cuidados com ela. “Aprendemos que só o amor e o carinho podem ajudar o idoso a ter uma vida com a qualidade possível”, ensina. A degeneração do sistema nervoso foi lenta, mas já progrediu ao ponto de a tia ter dificuldades de articular algumas palavras e de conseguir deglutir alimentos. “Ela agora precisa de afeto”, acalenta.
Tratamento
Há cerca de 40 anos, a realidade das famílias dos pacientes com Parkinson e Alzheimer, no Brasil, era de conformidade. “Era considerado ‘normal’, ‘sem jeito’ e ‘doença de velho’. Então, não se costumava fazer tratamento para se reverter a condição”, afirma o geriatra João Macêdo, professor da Universidade Federal do Ceará (UFC). As mudanças começaram a acontecer à medida que os “males” foram reconhecidos como doença. Assim, além da medicina, terapias passaram a ser incorporadas ao tratamento.
“A terapia ocupacional, inicialmente, avalia as funções físicas, cognitivas e sociais do indivíduo. Os métodos são selecionados de acordo com as potencialidades e limitações do paciente”, cita a terapeuta ocupacional Ana Paula Carvalho. Ou seja, é um tratamento que busca possibilitar a dignidade ao paciente. Segundo Ana Paula, é importante insistir no trabalho das atividades que priorizem a preservação das funções da vida diária. O estímulo é para o paciente alcançar seu nível máximo de função e independência.
Por enquanto, reversão ou cura não são realidades. O que o tratamento médico, fonoaudiólogo e terapêutico, dentre outros, faz é retardar o avanço dos sintomas. “Com a evolução, o paciente vai perdendo a independência paulatinamente, já que se trata de doenças degenerativas progressivas”, confirma Ana Paula Carvalho. Muito em breve, defendem os especialistas, não vai ser comum que idosos fiquem esquecidos. Vai se normalizar a possibilidade de preservação na memória, por exemplo, do seu companheiro de uma vida inteira.
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